Criador de Universos

Compartilhe este post

Entrevista com o ilustrador André Persechini

Na quinta edição do Blog da Cris, o entrevistado é André Persechini Corte de Araújo ou, simplesmente, Pepo, nome pelo qual o artista é conhecido entre amigos. Bacharel em Pintura, pela Escola de Belas Artes da UFMG, André é talentoso, carismático e proativo.

Apaixonado pelo que faz, André entrega: – A cada esboço, desenho, pintura ou qualquer novo trabalho, sinto que desenvolvo mais minhas habilidades como ilustrador e acredito que essa evolução irá continuar pelo resto da minha vida.

Vida é o que não falta nas ilustrações. Pepo se entrega e a sua ilustração fala por ele. Sonhos, poesia e cor, o baile é completo. A entrevista com o artista entrega um pouco do muito que ele é: puro TALENTO!

“Gosto de dizer que somos um remix de tudo que consumimos. Toda criação é um recorta-e-cola de tudo que vivemos, experimentamos, admiramos e até mesmo do que odiamos.”

André Persechini

Cristina Vieira: Como você define a ilustração?

André Persechine: Vejo a ilustração como a arte de criar novos mundos, sentidos e emoções com base em um texto e também como a arte de expandir a poética da literatura em imagens. O trabalho do ilustrador também pode ser visto como um tradutor de linguagens da palavra escrita à imagem.

A cada esboço, desenho, pintura e novo trabalho sinto que desenvolvo mais minhas habilidades como ilustrador e acredito que essa evolução irá continuar pelo resto da minha vida.

A cada esboço, desenho, pintura e novo trabalho sinto que desenvolvo mais minhas habilidades como ilustrador e acredito que essa evolução irá continuar pelo resto da minha vida.

 

Cristina Vieira: Para você qual o papel da ilustração na composição de uma obra? Qual o maior desafio de ilustrar obras infantis?

André Persechini: É claro que o papel da ilustração em uma obra depende muito do escopo de cada projeto, mas acredito no trabalho do ilustrador quase como um coautor. Como disse antes, as imagens ampliam e criam novos sentidos para uma obra.

Em um livro infantil, por exemplo, o desafio do ilustrador é criar imagens que enriqueçam o texto e surpreendam o leitor, ao mesmo tempo que encaixem na visão do autor sobre como aquele mundo de palavras deve ser traduzido. É um equilíbrio que pode ser difícil de conseguir, mas, quando bem feito, engrandece qualquer obra, mesmo a dos mais importantes e celebrados autores.

“Em um livro infantil, por exemplo, o desafio do ilustrador é criar imagens que enriqueçam o texto e surpreendam o leitor ao mesmo tempo que encaixem na visão do autor sobre como aquele mundo de palavras deve ser traduzido”.

 

Cristina Vieira: Você está ilustrando o meu livro “O Elefantinho Colorido”. Como você descreve essa experiência?

André Persechini
: Há mais ou menos 16 anos, você me chamou para ilustrar esse livro, por ser um ilustrador amigo do seu sobrinho. Na época, eu era um estudante de artes visuais, inexperiente e, apesar de gostar dos desenhos, o resultado condiz com o trabalho de um jovem de 20 anos.

Recentemente, quando você me chamou para finalizar os desenhos, pude rever as ilustrações e combinamos refazê-las. A experiência está sendo ótima, pois estou adorando ilustrá-lo novamente e enxergar como meu trabalho evoluiu nesse período.

Estou gostando também de reler o livro e reinterpretar as personagens e situações, agora, com a visão de um pai que consome muitos livros infantis, diariamente. Além disso, este trabalho reacendeu meu interesse em ilustrar livros e me inspirou a, inclusive, desenvolver um livro com minha companheira para dedicar ao nosso filho.

“Além disso, este trabalho reacendeu meu interesse em ilustrar livros e me inspirou a, inclusive, desenvolver um livro com minha companheira para dedicar ao nosso filho.”

Cristina Vieira: Quando você soube que queria ser ilustrador? Antes de se formar você chegou a desenvolver algum trabalho na área?

André Persechine: Muito antes de entrar na faculdade, já me interessava em ter uma carreira como desenhista. Por alguns anos, experimentei diversas possibilidades. Fiz cursos de animação e, por um tempo, persegui o desenho animado e o cinema. Foi durante o Curso de Artes Visuais, que me descobri ilustrador e comecei a pegar meus primeiros freelas.

Um deles foi exatamente o livro “O Elefantinho Colorido”. Os primeiros trabalhos foram difíceis, pois a inexperiência no mercado e a falta de maturidade profissional impuseram barreiras que somente a prática, tempo e dedicação puderam retirar.

 

Cristina: Como você descreve sua evolução ao longo dos anos? Qual a importância da profissão no contexto atual e quais as perspectivas?

André Persechine: A fim de me adaptar às demandas do mercado, ao longo dos anos, desenvolvi a habilidade de trabalhar vários estilos. Trabalhei com livros infantis, rótulos de cerveja, capas de disco, posters de shows, materiais didáticos e encomendas originais. Cada criação demanda habilidades diferentes e com o tempo o meu trabalho foi ficando mais forte. Em 2017, comecei a trabalhar, também, como tatuador.

Acredito que o trabalho do ilustrador é essencial para todas as pessoas. É por meio da ilustração que descobrimos a leitura. Ela está presente em diversas etapas das mais variadas atividades, desde concept arts para filmes, séries e jogos que moldam nossa cultura, passando pelo marketing e publicidade, que recorrem a elas para vender seus produtos. Ela está presente até no importante trabalho dos cartunistas que usam o desenho para criticar a sociedade e a política.

A ilustração resistirá ao passar do tempo e o presente oferece novas oportunidades, mas também enormes desafios. Se as novas tecnologias nos oferecem possibilidades de novos estilos, meios de divulgação e ferramentas, elas também podem viciar os ilustradores nas lógicas das plataformas de redes sociais.

Claro que tudo isso gera uma enorme dependência para divulgação do trabalho e captação de clientes, sem falar das novas ferramentas de Inteligência Artificial que, além das discussões sobre quebra de direitos autorais, têm o potencial de eliminar grande parte dos postos de trabalho, ao automatizar a criação de imagens, no futuro, e, ao mesmo tempo, homogeneizar os estilos.

Cristina Vieira: Quais suas experiências mais marcantes como ilustrador? O que elas significaram para você?

André Persechini: Um dos trabalhos mais importantes para mim é a recorrente parceria com os produtores da festa “Transa! Música Brasileira”, que acontece todos os meses, desde 2013, em Belo Horizonte. São 10 anos de parceria (salvo a pausa durante a pandemia), nos quais produzi os cartazes da festa. Nesse período, ajudei a construir a identidade de algo que se tornou um grande evento na vida cultural da cidade.

Em contrapartida, a atividade foi enriquecedora, por contribuir para o meu desenvolvimento profissional e possibilitar que eu testasse técnicas e estilos diferentes. Ano passado, perdemos a Carou, uma das produtoras do projeto. Eu serei eternamente grato por sua parceria, confiança e amizade.

Tive também outras experiências marcantes, ilustrei em aquarela ídolos do Cruzeiro (meu time do coração), para uma campanha, além de numerosos posters e capas de álbuns de bandas da cena alternativa da cidade.

Cristina Vieira: O trabalho do ilustrador é valorizado? Quais e onde estão as principais oportunidades oferecidas pelo mercado?

Sempre achei difícil saber se a profissão é valorizada ou não, já que passei por experiências opostas diversas vezes. Por um lado, existe sempre a dificuldade de cobrar pelo meu trabalho, porque a precificação do serviço é difícil, uma vez que considera variáveis que nem sempre estão na mente do cliente como: tempo de produção, prazo, técnicas escolhidas. Por outro lado, sempre tive a sorte de trabalhar com pessoas que gostam e valorizam o meu trabalho, acredito que consegui, ao longo dos anos, conquistar alguns clientes recorrentes e firmar parcerias incríveis com pessoas e empresas.

Uma das maneiras, a qual recorri para circunventar algumas dificuldades do mercado, foi me tornar tatuador.  Essa atividade, por ser mais artesanal e com uma relação emocional mais próxima do cliente, é mais valorizada, portanto, considero que essa foi uma escolha acertada, não só para ter uma nova forma de expressão artística, mas, também, por possibilitar a conquista de um mercado com boas oportunidades na cidade e fora dela.

Cristina Vieira: Como acontece o seu processo criativo? Que tipo de ilustração você faz? Geralmente como vem a inspiração e o desenvolvimento do trabalho?

Cada artista tem seu processo, e o meu já mudou bastante. Admito que hoje em dia muita coisa vem automaticamente, (brinco que faço um “download astral” de alguns trabalhos). Graças à experiência adquirida com o tempo, tenho facilidade de simplesmente “sentar e fazer”, quando eu preciso. É claro que isso depende do projeto e é algo que preciso exercitar. Gosto de tomar “banhos de referências”, ou seja, antes de iniciar um trabalho, mergulho em diversas imagens, textos, músicas e filmes como forma de inspiração.

Hoje meu trabalho (exceto a tatuagem) é feito em suporte digital, o que facilita vários processos e me dá praticidade para lidar com alterações dos clientes, colorização e experimentação. Não consigo enxergar em mim um estilo ou uma linha de trabalho, prefiro deixar essa parte para as outras pessoas dizerem.

Cristina Vieira: Que tipo de trabalho você prefere?

Meus trabalhos favoritos são aqueles que me trazem um forte envolvimento pessoal e emocional. Como músico adoro trabalhar em capas de álbuns de artistas e amigos que admiro e como pai, estou adorando voltar a me envolver com livros infantis.

Como músico adoro trabalhar em capas de álbuns de artistas e amigos que admiro e como pai, estou adorando voltar e me envolver com livros infantis.

Cristina Vieira: Você ilustra para diferentes públicos ou se restringe ao infantil? Qual a diferença ao desenvolver esses trabalhos?

André Persechini: Cada público e cada trabalho merece um cuidado específico e cabe ao ilustrador saber navegar entre eles para desenvolver as ideias das ilustrações, conforme as expectativas e formatos de diferentes clientes e públicos.

Certos temas devem ser tratados com muito cuidado em ilustrações para o público infantil, já para marcas e publicidade, o desafio é criar algo que agregue à marca e atraia mais clientes.

Cristina Vieira: Você tem uma referência ou inspiração? Quem são? Explique.

André Persechini: Tenho referências dos mais diversos meios. Acredito que todo artista deve expandir suas inspirações para além da sua área. Nas artes, sempre fui atraído pelo pós-impressionismo de Van Gogh, com suas pinceladas marcantes e cores vivas e, também, pelas composições oníricas dos surrealistas e dadaístas.

Na música, sou fã das bandas de punk, por sua energia caótica e mensagem política forte. Nos esportes, jogadores como Tostão e Sócrates são fontes de inspiração, por serem atletas que foram para além do que era esperado e marcaram forte presença com sua habilidade e ideias.

Gosto de dizer que somos um remix de tudo que consumimos. Toda criação é um recorta-e-cola de tudo que vivemos, experimentamos, admiramos e até mesmo do que odiamos.

Cristina Vieira: Que mensagem você deixa para quem quer seguir a carreira de ilustrador?

André Persechini
: Desenhe de dia, de tarde, de noite! Em casa, na aula, no trabalho e na rua. Desenhe constantemente e não se importe em comparar o seu trabalho com os outros (principalmente com os mestres). Inspire-se neles, mas nunca se deixe paralisar.

Tenha prazer em desenhar e se desenvolver como desenhista, procure novas técnicas, escute novas músicas, veja novos filmes. Copie e roube dos melhores para desenvolver o que é seu (acredite, todos fazem isso!).

Para saber mais sobre André Persechini, entre em contato com ele. Abaixo alguns contatos do artista:


Instagram profissional: @pepoestudio
E-mail andre.persechini@gmail.com
Portfólio: behance.net/pepoestudio

Deixe um comentário

Se inscrever
Notificar de
guest
1 Comentário
Mais recente
Mais antigo Mais votado
Feedbacks Inline
Ver todos os comentários

Veja mais Postagens

Talento a toda prova

Entrevista com Guilly Castro   Este mês nosso entrevistado é Guilly Castro. Artista que traz para nossos palcos o colorido, a beleza e o entusiasmo

Leia Mais»
1
0
Comente, sua opinião é muito importante.x