A voz da mulher

Compartilhe este post

“A Cinderela Divorciada nasceu da contraditoriedade entre as princesas dos contos de fadas tradicionais e a mulher da vida real”.

Cecília Nina

Cecilia Liebort Nina ou simplesmente, Cecília Nina, um dos nomes artísticos adotados por nossa entrevistada, pede passagem. Poeta, professora, escritora, bióloga, feminista e o que mais ela quiser, é uma mulher cheia de vida e sonhos.

Nesta entrevista, ela fala de trajetos, objetivos, construções, arte e feminismo. Atualmente, morando no Canadá, Cecília tem uma história marcada por recomeços e muita garra. Vamos a ela?

Cristina Vieira – Por que Cinderela Divorciada?

Cecilia Nina – A Cinderela Divorciada nasceu da contraditoriedade entre as princesas dos contos de fadas tradicionais e a mulher da vida real, imperfeita, independente, que busca a sua liberdade enquanto ser humano.

Cristina Vieira – Você se disse formada pela complexidade das interações humanas? Qual o significado disso para você?

Cecilia Nina – Sim. Sempre fui uma observadora da vida, desde criança gostava de conversar e ouvir as histórias de pessoas de gêneros e idades diferentes. Olhava as estrelas; tocava animais como insetos e outros, tentando entender como “funcionavam”, quem eram, por que estavam ali.

A biologia, psicologia e sociologia tiveram uma grande influência na construção de quem sou. A forma como me relacionei com minhas emoções e o impacto cultural no modo como enxerguei a vida, em momentos distintos, proporcionaram-me certos entendimentos das relações humanas. Buscar um significado mais profundo em cada uma delas sempre foi algo intrínseco à minha personalidade curiosa e é o que dá sentido às coisas, à vida e explica a evolução humana de forma mais holística, na minha perspectiva.

“Buscar um significado mais profundo em cada uma delas sempre foi algo intrínseco à minha personalidade curiosa e é o que dá sentido às coisas, à vida e explica a evolução humana de forma mais holística, na minha perspectiva”. 

Cristina Vieira – Em que medida ser professora foi importante na sua formação?

Cecilia Nina –  Ser professora foi importante, dentre outras coisas, para que eu percebesse que meu desejo de mudar o mundo era real, mas que tinha que começar por mim, descobrindo que aquele não era o caminho e que poderia fazer isso de outras formas e melhor.

Cristina Vieira – Que lição você tira desse período? Qual a sua contribuição para o mundo e para si mesma?

Cecilia Nina – Ter sido professora me ajudou muito no resgate de traumas, memórias e traços da minha personalidade que não conseguia enxergar, tais como: o excesso de autocrítica, a busca por uma perfeição castradora e a baixa autoestima. Também me ajudou a perceber que estava na profissão errada.

Por outro lado, espero que minha contribuição para o mundo seja informar, alertar, despertar a necessidade de reflexões sobre questões importantes, como o autoconhecimento, a evolução individual e social, a inequalidade, o racismo, a homofobia, o machismo e tantas outras questões de injustiça social.

“Espero que minha contribuição para o mundo seja informar, alertar, despertar a necessidade de reflexões sobre questões importantes, como o autoconhecimento, a evolução individual e social, a iniquidade, o racismo, a homofobia, o machismo e tantas outras questões de injustiça social”.

Cristina Vieira – Por que decidiu sair do país? O que você busca?

Cecilia Nina – A primeira vez que saí do país foi porque precisava me encontrar. Sempre tive o sonho de morar e estudar fora e, num determinado momento, a vida me empurrou para fora da minha bolha. Isso me ajudou nessa busca por mim e a desenvolver outras perspectivas de mundo, da vida e das pessoas.

Cristina Vieira – Por que escolheu o Canadá? O que essa mudança trouxe ou promete para a sua vida?

Cecilia Nina – Nunca havia pensado no Canadá. O país foi sugestão do meu irmão mais novo, que, naquela época, pensava em mudar para cá. Quando me lembrei da proximidade do país com Boston, da família de amigos que deixei por lá, e me dei conta do mundo do cinema e do entretenimento televisivo existente aqui, decidi arriscar. Acredito que essa mudança abrirá muitas portas para a nova carreira, para que eu possa falar sobre o Brasil que não se conhece aqui fora.

Cristina Vieira – Toronto é uma cidade artística?

Cecilia Nina – Sim, a diversidade cultural de Toronto, uma cidade repleta de imigrantes, reflete, também, a diversidade artística, com muito espaço para a música, dança e filmes por exemplo.

Cristina Vieira – Quais os seus planos?

Cecília Nina – No momento acabo de voltar a estudar. O curso é Broadcasting: Television and Videography (Radiodifusão: televisão e videografia). Meus planos são de atuar como escritora de roteiros, produtora, diretora e outros projetos relativos à área do entretenimento, vamos ver…

Cristina Vieira – O que você faz atualmente no Canadá? Quais suas perspectivas?

Cecilia Nina – Atualmente, concluo o meu primeiro livro a ser publicado em Português, enquanto estudo.

Liberdade para ser

 Cristina Vieira – Você é feminista?

Cecilia Nina – Sim. Acredito que toda mulher nasce feminista, mas é levada a pensar e a se comportar de outra forma, moldada pelos padrões sociais e controle do patriarcado.

“Toda mulher nasce feminista, mas é levada a pensar e se comportar de outra forma, moldada pelos padrões sociais e controle do patriarcado”.

 Cristina Vieira – O que é feminismo para você?

Cecilia Nina – Para mim, o feminismo vai além de um movimento social e político de busca pela igualdade de gênero e direitos. O feminismo, para mim, é um movimento de recuperação da identidade da mulher (trans ou cis), caracterizado pela busca da liberdade de ser e se expressar como quer.

“O feminismo, para mim, é um movimento de recuperação da identidade da mulher (trans ou cis), caracterizado pela busca da liberdade de ser e se expressar como quer”. 

 Cristina Vieira – Por que você acha que o feminismo é necessário?

Cecilia Nina – O feminismo é extremamente necessário para que mulheres e minorias em geral percebam que há uma grande discrepância no real exercício de direitos para esses grupos. É importante que nos reconheçamos em nossas diferenças e peculiaridades. Que sejamos respeitados e nos sintamos realmente livres, para sermos quem somos, sem que haja nenhuma perda de identidade ou oportunidades, simplesmente por sermos parte do “diferente”.

Cristina Vieira – O que é ser feminista no Brasil e no Canadá?

Cecilia Nina – No Brasil, é uma luta enorme e constante. Não é só uma questão de educação, o que por si só já é algo difícil, mas é também uma questão de desconstrução de pensamentos de cunho biológico, religioso e social. É uma estrondosa quebra de padrões e também uma luta por uma liberdade mais profunda. Trata-se da libertação de um controle que, por vezes, não é muito claro nas nossas relações e no dia a dia, especialmente porque nascemos nessa cultura, então é difícil enxergar o quão uma mulher é diminuída e oprimida.

No Canada e nos Estados Unidos é um pouco mais fácil. São países que reconhecem e trabalham, através da educação e políticas de igualdade social, a presença da diversidade de gêneros e culturas, já que são compostos por imigrantes de forma massiva. Os direitos humanos são assiduamente discutidos e refletidos. Ainda há muito o que se trabalhar, mesmo aqui, como a objetificação da mulher, principalmente da mulher latina, mas, sim, é muito melhor ser mulher aqui do que no Brasil.

“Ainda há muito o que se trabalhar, mesmo aqui, como a objetificação da mulher, principalmente da mulher latina, mas, sim, é muito melhor ser mulher aqui do que no Brasil”.

Cristina Vieira – A que você atribui a resistência de algumas pessoas e grupos sociais em relação ao feminismo e à feminista?

Cecilia Nina – Primeiro ao desconhecimento, à ignorância, sobre o que é o feminismo. Segundo, ao medo da mudança. Se você cresce dentro de uma caverna e tudo que você conhece está ali proporcionando uma segurança desconfortável, você resiste em sair.

Em outras palavras, mesmo que a caverna propicie uma vida sem luz, sem cor, a tendência é que você resista em se libertar, por medo do desconhecido. O terceiro motivo é a necessidade de manter o controle sobre as mulheres. Quando uma mulher se nega a exercer determinado papel ou padrão, ela se torna uma ameaça a essa estrutura, pois lutará para ser quem quiser e como quiser.

Arte como forma de expressão e representatividade 

Cristina Vieira – Quando e como você percebeu que a arte era o seu caminho?

Cecilia Nina – Desde pequena. Sempre tive os dois lados muito fortes: o introspectivo, carregado das observações da vida e da expressão das emoções, e o extrovertido, com a necessidade de colocar para fora o meu eu, por meio de interpretações teatrais, da escrita, do meu jeito falante, além do contato e da necessidade de conhecer pessoas.

Cristina Vieira – Como você encara e define o seu trabalho como escritora?

Cecilia Nina – Meu trabalho como escritora não tem a pretensão de me dar um título profissional ou algum reconhecimento no campo literário. Escrever para mim é a arte de me expressar, de informar, questionar, alertar e representar outras mulheres que sentem como eu ou que passaram e passam por situações semelhantes às minhas.

Cristina Vieira – Você está escrevendo um livro, não é? Como você o define? É um romance, ficção, um livro de contos? Já tem um título? Qual é o tema central? Quando pretende lançá-lo?

Cecilia Nina – Sim, o livro (nome vou deixar para o lançamento, rs). Pode ser considerado um romance, baseado em fatos reais. Ele contextualiza o abuso numa relação, explica de certa forma como uma mulher pode acabar numa relação abusiva e quais são os fatores sociais e familiares que podem levar a isso.

Cristina Vieira – O seu canal no Youtube é muito interessante, especialmente quando faz dupla com você mesma. Como você o planejou? Qual o seu objetivo com ele? Que caminho pretende seguir? Imagina como serão as próximas publicações?

Cecilia Nina – Não houve planejamento. Acho que surgiu dessa necessidade de me expressar, e a televisão, a expressão através da imagem, sempre teve uma influência muito grande no meu desenvolvimento. É uma arte que envolve tanto a escrita do texto para os vídeos quanto a necessidade de trabalhar, por meio da leitura corporal e facial o que se pretende passar.

Não tenho formação como atriz, mas expressar emoções é extremamente importante na vida. O canal do YouTube objetiva colocar em imagens o mesmo que coloco no site, experiências e perspectivas do universo feminino.  Claro, contextualizando com questões sociais e podendo envolver outros grupos e minorias. Os próximos continuarão seguindo essa linha, mas, também, poderão se aproximar de monólogos humorísticos como o stand up comedy para abordar essas questões.

Cristina Vieira – Se tivesse que recomendar um vídeo no YouTube, qual recomendaria? Por quê?

Cecilia Nina – Sou apaixonada pelo último “Conheci um Cara”. O vídeo representa muitas das falas que já ouvi e, claro, outras mulheres já podem ter ouvido. Ele traz diferentes perspectivas de uma mesma situação, mostrando não só a complexidade dos seres humanos como tons sexistas. E claro, o humor!

Cristina Vieira – Como você define sua arte? Explique.

Cecilia Nina – Acho que tentar definir a minha arte, seja lá o que isso possa significar para as pessoas, seria como me limitar, me colocar na caixinha das classificações da qual tanto lutei para sair. O mais importante no que faço é o propósito: trazer reflexão, através do riso, através         da informação, através da escrita ou da imagem, isso não importa. O foco é estimular o questionamento na busca da evolução enquanto indivíduos e também sociedade.

“Definir a minha arte, seja lá o que isso possa significar para as pessoas, seria como me limitar, me colocar na caixinha das classificações da qual tanto lutei para sair”.

Cristina Vieira – Como você apresentaria o seu blog para os leitores? Como você o define?

Cecilia Nina – Um blog para compartilhar histórias e informações do Universo Feminino.

Cristina Vieira – Que conselhos você daria para alguém que pretende lançar um livro independente? Como facilitar o percurso?

Cecilia Nina – Não sou nem de longe a pessoa mais indicada para responder essa pergunta, mas, acredito que a primeira pergunta a se fazer é: qual a intenção do livro?

Quanto à publicação, o mundo virtual facilitou muito a vida do escritor, principalmente no Brasil. Diria para contratar um especialista para a revisão e, então, publicá-lo online, sem os altos custos cobrados por editoras, porém com um lucro mais significativo.

Cristina Vieira – Além de escritora, existe outro atributo que você desempenha que se enquadraria nesse âmbito (arte)?

Cecilia Nina – Exceto pintar e cantar, todas as esferas artísticas me atraem muito, vejo-me escrevendo roteiros, atuando, produzindo, dirigindo. É para isso que estou estudando.

Cristina Vieira – Blog, Youtube, livro. O que mais vem por aí? Qual deles você prefere?

Cecilia Nina – Acho que vem muito mais coisa do que eu possa imaginar. Mas Stand Up Comedy está na minha lista deste ano.

Cristina Vieira – Qual a sua expectativa em relação à Faculdade? Fale resumidamente pra gente.

Cecilia Nina – O curso de Broadcasting: Television and Videography me dará o entendimento necessário para que possa colocar minhas ideias e projetos em prática. O conhecimento do desenvolvimento de uma produção, de um set é imprescindível para quem quer seguir contando histórias nas telas.

Cristina Vieira – Você tem uma frase, pensamento ou poema que a define? Qual? Por quê?

Cecilia Nina – O poema Invictos, de Ernest Henley, há oito anos, tem sido uma inspiração. Em vários momentos em que me senti no chão, impotente, sozinha, quando a carga era maior do que podia carregar, voltava a ele e o lia. A última estrofe (abaixo) diz muito sobre mim, da minha persistência e lutas.

Invictus

Autor: William E Henley

Tradutor: André C S Masini

 

Do fundo desta noite que persiste

A me envolver em breu – eterno e espesso,

A qualquer deus – se algum acaso existe,

Por mi ’alma insubjugável agradeço.

 

Nas garras do destino e seus estragos,

Sob os golpes que o acaso atira e acerta,

Nunca me lamentei – e ainda trago

Minha cabeça – embora em sangue – ereta.

 

Além deste oceano de lamúria,

Somente o Horror das trevas se divisa;

Porém o tempo, a consumir-se em fúria,

Não me amedronta, nem me martiriza.

 

Por ser estreita a senda – eu não declino,

Nem por pesada a mão que o mundo espalma;

Eu sou dono e senhor de meu destino;

Eu sou o comandante de minha alma.

(Disponível em http://www.casadacultura.org/Literatura/Poesia/g12_traducoes_do_ingles/invictus_henley_masini.html)

Cristina Vieira – Quer entrar em contato com Cecília Nina? Registramos, abaixo, o e-mail e o site (blog) dela para que você possa conhecê-la melhor.

Instagram:@cindereladivorciada

Site: cindereladivorciada.com.br

Deixe um comentário

Se inscrever
Notificar de
guest
4 Comentários
Mais recente
Mais antigo Mais votado
Feedbacks Inline
Ver todos os comentários

Veja mais Postagens

Vibrando em Tom Maior

“Passei a vida procurando o que seria eu no trabalho, queria algo que fosse diretamente à minha alma, por isso fiz tantas coisas. Fui decoradora,

Leia Mais»

A voz da mulher

“A Cinderela Divorciada nasceu da contraditoriedade entre as princesas dos contos de fadas tradicionais e a mulher da vida real”. Cecília Nina Cecilia Liebort Nina

Leia Mais»
4
0
Comente, sua opinião é muito importante.x