Uma voz que age e questiona

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Entrevista com Vinícius Venades

 

Este mês quem fala aos leitores do blog da Cris é o poeta, ativista e palestrante, Vinícius Venades. Engajado em causas sociais, especialmente na defesa dos direitos dos deficientes, Venades é estudante de direito e Conselheiro Municipal da Juventude, aqui em Belo Horizonte, cidade onde nasceu. Com 20 anos, o poeta acredita que todos somos escritores.

Em sua visão, a poesia é um meio de expressar emoções e provocar reflexões sobre o mundo. Sua trajetória poética começou como algo íntimo, uma forma de expressar sentimentos e reflexões pessoais. Com o passar do tempo, ele percebeu sua poesia como um instrumento de diálogo com as pessoas e com as questões sociais, um meio de conectar o seu interior ao mundo exterior, sempre com a crença de que todos têm histórias valiosas para compartilhar.

Seu talento e seu ideal de justiça estão presentes em cada linha desta entrevista em que ele denuncia e se pronuncia sobre a invisibilidade dos deficientes e fala da sua experiência de ser invalidado em todos os aspectos da vida. Como pessoa com deficiência, ele já foi ignorado nas suas necessidades e aspirações em áreas fundamentais, como cultura, esporte e sexualidade.

Este artigo é também uma forma de ressaltar a importância de olharmos os deficientes como pessoas capazes. O talento de Vinícius Venades é uma prova indubitável dessa realidade. Sem dúvida, a deficiência é uma face importante da diversidade humana, porém constantemente incompreendida.

Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado em 2022 aponta que 17,3 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência, entretanto a participação dessas pessoas no mercado de trabalho não corresponde a 50% desse percentual, embora a maioria seja constituída por pessoas capazes, pois a deficiência não define a capacidade da pessoa. De acordo com essa pesquisa: 5,1 milhões de pessoas com deficiência trabalhavam, contra 12 milhões que estavam fora da força de trabalho no Brasil.

Poesia

1. Cristina Vieira: Como você se descobriu poeta?

Vinícius Venades: Eu me descobri poeta quando percebi que escrever era minha maneira de organizar e dar sentido ao que eu sentia. A escrita surgiu como uma forma de autoconhecimento, uma maneira de canalizar minhas emoções e minha percepção do mundo. Com o tempo, entendi que todos têm essa capacidade de contar suas próprias histórias.

2. Cristina Vieira: Como você define a poesia?

Vinícius Venades: A poesia é a arte de colocar em palavras aquilo que muitas vezes está além da linguagem comum. Ela revela o que está escondido, transforma sentimentos em versos e dá vida às experiências. Acredito que todos nós, de algum modo, somos poetas, pois todos temos algo a dizer, seja em silêncio ou em palavras.

“A poesia é essa capacidade de ver o extraordinário no cotidiano e a forma de cada um escrever a sociedade, acho que um sinônimo de poesia é exatamente esse, sociedade”.

3. Cristina Vieira: Na sua opinião, qual o valor da poesia na atualidade?

Vinícius Venades:  O valor da poesia é imensurável. Em tempos de tanta incerteza e polarização, ela nos lembra da nossa humanidade comum. Ela pode nos fazer refletir, questionar e nos conectar com sentimentos e experiências que, muitas vezes, não encontramos nas palavras cotidianas. A poesia é uma forma de resistência e uma maneira de resgatar a sensibilidade que muitas vezes se perde.

“A poesia é uma linguagem universal. Com seus vários dialetos, ela deixa a comunicação mais bela e plural”.

Literatura como agente de inclusão

4. Cristina Vieira: Você enxerga a literatura como agente de inclusão? Explique, por favor.

Sim, a literatura tem papel fundamental como agente de inclusão. Ela dá voz àqueles que muitas vezes são silenciados, abre espaço para a diversidade de experiências e coloca diferentes realidades em contato umas com as outras. Por meio da leitura e da escrita, podemos explorar mundos e perspectivas que, de outra forma, talvez não conheceríamos. A literatura tem a capacidade de incluir ao ampliar os horizontes do leitor, conectando-o com diferentes culturas, realidades e formas de ser. Ela pode quebrar barreiras, criando empatia e entendendo as lutas e vivências de pessoas que, muitas vezes, são excluídas ou marginalizadas.

5. Cristina Vieira: Você lançou no dia 26 de setembro o livro Entre o Ser e o Sistema. Pode nos explicar o significado desse nome?

Vinícius Venades: O título “Entre o Ser e o Sistema” reflete a dualidade entre quem somos como indivíduos e o impacto que o sistema exerce sobre nós. O “Ser” representa a nossa essência, nossas vontades, sentimentos e desejos. Já o “Sistema” é a sociedade em que estamos inseridos, com todas as suas estruturas, limitações e imposições.

“O livro explora o conflito entre a individualidade e as pressões sociais que nos moldam, questionando até que ponto somos livres ou apenas peças em uma grande estrutura”.

6. Cristina Vieira: O que o leitor encontra na obra? Por que você a considera como um grito? Onde é possível adquiri-la?

Vinícius Venades: Na obra Entre o Ser e o Sistema, o leitor encontra uma poesia que reflete sobre as dores e os desafios da nossa sociedade. Ela fala de temas como alienação, precarização do trabalho e das condições, muitas vezes insustentáveis, nas quais as pessoas são obrigadas a viver. Eu considero esse livro um verdadeiro grito porque ele expõe uma realidade em que muitos não vivem de fato, mas apenas sobrevivem.

A obra revela as mazelas de um sistema que sufoca, que reduz a vida a uma luta diária e que rouba da humanidade a dignidade que ela merece. Minha poesia busca ser uma voz que questiona, que incomoda e que chama à reflexão sobre o que está errado e sobre como podemos transformar essa realidade.

“Minha poesia busca ser uma voz que questiona, que incomoda e que chama à reflexão sobre o que está errado e sobre como podemos transformar essa realidade”.

Ela pode ser adquirida diretamente comigo, por meio do WhatsApp ou e-mail disponibilizados no final desta matéria. Para isso, basta entrar em contato comigo que eu a enviarei. Futuramente, ela poderá ser adquirida digitalmente, como forma de ampliar o acesso à leitura e à reflexão sobre o conteúdo.

7. Cristina Vieira: Além desse novo livro, você publicou outras obras? Quais? Fale um pouco sobre isso.

Vinícius Venades: Ainda não publiquei obras próprias, mas tive a honra de participar de da 8a, 9a e 10a edições, do Cena Poética, publicadas em 2022, 2023 e 2024, respectivamente. Esses livros reúnem autores e poetas independentes que, juntos, criaram obras verdadeiramente belas. Cada volume é um reflexo da diversidade literária, cultural e poética do Brasil. São trabalhos ricos, cheios de capacidade e sensibilidade que recomendo para quem deseja se aprofundar em literatura contemporânea. Elas comprovam que, mesmo nas mãos de autores independentes, a poesia pode transformar e inspirar.

Direito

8. Cristina Vieira: Engajado em causas sociais, você desenvolve um trabalho muito importante voltado para o direito das pessoas com deficiência. Em que medida a sua própria deficiência o motivou a atuar nessa área?

Minha deficiência sempre foi uma fonte de motivação porque eu vivi e ainda vivo as dificuldades de precisar de ajuda e, muitas vezes, não encontrar ninguém disposto ou capacitado para oferecê-la. Eu entendo profundamente o que é ser invisível para a sociedade, ser invalidado em praticamente todos os aspectos da vida. Como pessoa com deficiência, já fui ignorado nas minhas necessidades e desejos em áreas fundamentais, como cultura, esporte, pensamento, sexualidade e até na construção da minha paz enquanto adulto.

As pessoas frequentemente não levam a sério o potencial de uma pessoa com deficiência. Isso vai muito além de acessibilidade física, está relacionado com a nossa dignidade, com o reconhecimento da nossa autonomia e das nossas capacidades. Fui empurrado, muitas vezes, para um lugar de subestimação, no qual se espera que a pessoa com deficiência seja limitada e dependente, incapaz de participar ativamente da sociedade, mas esse é um estereótipo que precisa ser rompido.

Essa vivência de exclusão me motiva a ser uma voz ativa na defesa dos direitos das pessoas com deficiência, porque eu sei o que é ser negado, o que é não ter espaço e não ser ouvido. Meu trabalho é uma forma de garantir que outras pessoas não passem pelas mesmas barreiras e que possam viver plenamente, com autonomia e respeito. Quero ser o apoio que muitas vezes me faltou e é isso que me impulsiona a lutar pela inclusão verdadeira — uma inclusão que seja digna e que reconheça o potencial, os sonhos e o valor de cada pessoa com deficiência.

9. Cristina Vieira: Para você, qual o significado desse trabalho e o que você espera alcançar com ele? Como é a receptividade por parte das instituições e das pessoas?

Vinícius Venades: Esse trabalho significa para mim a luta por dignidade e justiça. Mais do que promover inclusão, busco garantir que pessoas com deficiência sejam vistas e tratadas com o respeito que merecem. Meu objetivo é sensibilizar a sociedade e as instituições para que enxerguem esses indivíduos como agentes ativos, capazes de transformar o mundo ao seu redor. A receptividade, felizmente, tem sido muito positiva, embora ainda exista muito a ser feito. As instituições e as pessoas têm começado a abrir os olhos para a importância de uma inclusão efetiva, mas o caminho ainda é longo e cheio de desafios.

10. Cristina Vieira: No contexto atual, quais as principais dificuldades das pessoas com deficiência? Você considera que estamos caminhando para soluções adequadas?

Vinícius Venades: As principais dificuldades das pessoas com deficiência ainda são a falta de acessibilidade, a falta de oportunidades no mercado de trabalho e o preconceito enraizado na sociedade. Estamos caminhando, sim, mas de maneira lenta. Existem avanços importantes, mas o que falta, muitas vezes, é a conscientização de que essas barreiras precisam ser superadas urgentemente, para que as pessoas com deficiência possam viver em igualdade de condições. A inclusão não pode ser um favor, precisa ser um direito garantido e respeitado.

11. Cristina Vieira: Conte-nos um pouco do Vinícius palestrante. Qual é o seu público? Onde e o que você aborda em suas palestras? Como contratá-lo?

Vinícius Venades: Como palestrante, meu foco principal está no anticapacitismo e nos direitos das pessoas com deficiência. Meu público é diverso, abrangendo universidades, sindicatos, escolas, empresas e outras instituições que buscam sensibilizar suas comunidades sobre a importância da inclusão e dos direitos humanos. Nas minhas palestras, abordo questões como a invisibilidade social, o preconceito e como podemos construir uma sociedade mais inclusiva e justa. Para contratar uma palestra, basta entrar em contato diretamente comigo, para acertarmos os detalhes e necessidades do evento.

Cristina Vieira: Quais são os seus planos em relação a próximas produções literárias e ações sociais?

Vinícius Venades: Tenho planos de continuar usando a poesia como uma ferramenta de transformação social. Quero seguir produzindo obras que falem sobre as lutas e desafios que enfrentamos na sociedade, principalmente em relação à alienação, ao trabalho precarizado e à invisibilidade de grupos marginalizados, como as pessoas com deficiência. Pretendo lançar mais livros e continuar participando de coletâneas, fortalecendo a poesia como um grito de resistência e reflexão.

Além disso, planejo continuar com meu trabalho de palestrante e ativista, expandindo a conscientização sobre os direitos das pessoas com deficiência e o anticapacitismo. Meu objetivo é alcançar ainda mais instituições, universidades e sindicatos, sempre buscando gerar impacto social positivo e contribuir para um mundo mais inclusivo.

Em termos de ação social, quero continuar engajado em projetos que promovam acessibilidade, inclusão e autonomia para pessoas com deficiência. Também busco formas de ampliar meu trabalho com juventudes, educação e políticas públicas, sempre com o foco em construir uma sociedade mais justa e equitativa para todos.

Para que você possa conhecer mais o Vinícius Venades, reproduzimos, abaixo, uma poesia do autor.

 

Quem sou eu?

Eu que não sou mais o mesmo.

Você também já não é.

Indago-me quem eu sou,

Pergunta-te, quem você é?

 

Em constante embate de egos,

vivemos em um revés:

Aqueles que nem se veem

querem definir os cegos.

 

Há várias versões de mim,

nas imensuráveis mentes

que cruzaram meu caminho.

Eu me encontro em todas elas.

 

Me encontro nos desencontros,

E onde fui, serei também.

Para sempre e mais um dia,

Serei só eu, singular.

 

Há muitas versões de mim.

O pequenino, o calado,

O extrovertido, o agitado.

E eu me encontro em todas elas.

 

Vou ser eternamente eu,

entregue à fome das traças,

postas na roupagem do ego.

 

Contatos:

(31)99426-4711 – WhatsApp

vinivenades@gmail.com – e-mail

vinicius.venades – Instagram pessoal

In.site_poemas – Instagram de poemas

 

 

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