Cristina Vieira de Souza
O sino tocava quando entrou na igreja uma figura espalhafatosa, exótica e indefinida. Os olhares se viraram, porque era impossível resistir. Seria homem ou mulher? Ela não se curvou diante da aparição do padre ou dos santos, apenas prosseguiu até o altar. Buscou com o olhar o saco de esmolas, sacou da bolsa uma nota de 200 e a jogou displicentemente. Depois, deu meia volta e saiu, sem olhar para trás.
Há alguns meses, essa pessoa causava alvoroço na cidade. Ela não era só estranha, era um pouco mais que isso, pois era atraente, bonita, elegante e reluzente e, para realçar ainda mais o seu encanto, por onde andasse, havia sempre o badalar de um sino. O toque do sino anunciava a sua presença, muitas vezes antes dela chegar, e a isso as pessoas se curvavam e remetiam o olhar até a porta.
Um fato curioso aconteceu no Restaurante “Azul”. Pouco antes da sua entrada, podia se ouvir badaladas sutis e harmônicas. Elas lembravam sinos com sons exoticamente combinados. Quando ela finalmente entrou, os sinos acompanharam-na até a mesa e por lá estiveram, enquanto lá ela permaneceu.
De todos os fatos, o mais curioso aconteceu ao anoitecer. A cidade dormia, quando sinos badalavam notas suspensas do mais lindo amor. Seria o badalar de anjos? Não se sabe. Quando chegaram à janela ou à porta de casa, as pessoas encontraram aquele ser andrógino passando pelas ruas, como se voasse.
Certo dia, ela entrou no teatro onde um cantor reconhecido internacionalmente se apresentava. Os sinos então toaram com tanta, tanta força, que as pessoas levaram as mãos aos ouvidos como se não quisessem escutar.
O cantor então falou:
– É você, meu amor? Eu estava te esperando.